quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Décima Espanhola VI

Quem provoca e trama a guerra
Não vive em paz neste mundo,
Que o sentimento profundo
Que um tal peito encerra
É do tamanho da Terra
E gera dor, violência,
Morte, sofrer, desavença:
É o ódio que assassina,
Que destrói e extermina,
Que é desespero e descrença.

domingo, 2 de outubro de 2011

Décima Espanhola V

Escrevi o nome dela
N'areia branca da praia;
Bordei na barra da saia
Com uma linha amarela;
Pintei seu nome na tela
Na cor de sua pele parda;
Já no bolso de sua farda
Desenhei, pintei, bordei
E no final grafitei:
Amo Maria Eduarda!

Décima Portuguesa

Foi num sítio em Petrolina,
Debaixo d'um juazeiro,
Que avistei uma menina,
U'a bela flor de cardeiro.
Nessa lembrança me agarro,
Pois n'arte do humano barro
Quem fê-la, a fôrma perdeu,
Que a beleza é toda dela.
E se pude olhar pra ela,
Já esse olhar me valeu.

Sextilhas de Bancada III

I
Ao romper de mais um dia
À roça o homem se lança.
Depois no canavial
Pra cortar cana ele avança.
E quando o sol tá se pondo,
Talhando pedra descansa.
II
Vi num galho de aroeira
Um casal de passarinho
Alegre, fazendo festa
Arrodeando o seu ninho
Porque estava nascendo
O seu mais novo filhinho.
III
Tinha um gato lá em casa,
Gordo que só um angorá.
Tô pra ver gato tão mole,
De ver catita, e arregar.
E a presa botando atrás
De quem a devia pegar.
IV
"Dê-me a sua bênção, papai"
Mas o PAPAI caducou;
"A sua bênção", inda formal,
Logo sem o SUA ficou;
"A bênção" com o A pra quê?
Só "bença" enfim que restou.

Por falar em Zé Limeira...

Entrei no sonho da manhã
Pagando entrada pra três,
De mãos com u'a gravidez
Interrompida amanhã.
Fui deslembrando Nanã
Mas veio o tempo e me disse:
Deixe dessa parvoíce,
Que esse vício de querer
Sonhar pensando esquecer
Já embuchou a doidice.

A gente é para o que nasce?

Assisti impressionado
Um filme tão deprimente
Que pensei com meus botões:
Qual o cristão que não sente
Vergonha daquela história,
E pena daquela gente?


A história mostra os erros
Mas há gente que os repete;
Não aprende com o passado,
Só que escolher lhe compete;
E muita alma incauta
Com eles se compromete.


Parece ser esse o caso
Quando o infeliz é um jovem
Sem pessoas que o orientem,
Somente que o reprovem;
Enquanto pra o mau caminho
Muitos são os que o movem.


A vida prova que o jovem
Não pensa nas consequências;
Tudo pra ele são fontes
De ricas experiências;
Se deixarem, as transgressões
São as suas preferências.


Principalmente num lar
Onde o amor não existe;
Só intolerância, cobranças,
Ameaças com dedo em riste.
Há jovens em formação
Que a tais pressões não resiste.


Então BRUNA SURFISTINHA
Retrata bem esse fato.
O filme conta a história,
Baseada em seu relato,
Da vida que ela escolheu
Pra fugir de um mundo ingrato.


Embora lhe dessem o pão,
Boa escola e morada,
Só tinha o amor da mãe,
Pois se sentia enjeitada
Pelo pai e pelo irmão,
Só porque era adotada.


Na escola igualmente
Não conseguiu se enturmar;
E sempre se perguntava
O que estava a fazer lá;
E foi por causa da turma
Que ela deixou de estudar.


Isso foi a gota d'água
Para que tudo largasse.
Se em casa não tinha amor,
Nem na escola quem a amasse,
Quis então se libertar
De tudo que a amarrasse.


E foi embora pra rua
Viver da prostituição.
Bem satisfeita escolheu
Permanecer na ilusão,
Pois ela mesma enjeitou
Um pedido de sua mão.


E o que se vê nessa história
De tentação e perdição,
Do baixo instinto animal,
Do sexo depravação,
E mais que as drogas mortais,
É o vazio de um coração.

Consta no espetacular livro CANTADORES, REPENTISTAS e POETAS POPULARES do poeta e repentista José Alves Sobrinho, que é do cantador repentista Manoel Belarmino, poeta nascido em Limoeiro - PE, em 1929, e falecido em 1980, esta décima glosada de forma magistral:

Eis o baixo meretrício:
Lugar que a mulher perdida
Joga a sua própria vida
Na corrupção e no vício,
No mais miserável ofício
Cada uma se envolvendo,
Trocando beijos, bebendo,
Tomando a pulso, pedindo,
Manchando a alma, sorrindo,
Vendendo a carne e comendo.