sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Homem e o Passarinho



Perguntei a um cidadão:
-- Por que prende o passarinho
Que tinha toda a amplidão
E não vivia sozinho?
Não hesitou responder
E tentou me convencer
Disse: eu quis ser seu amigo
Pois joão-de-barro tem lar
Pica-pau onde morar
E eu lhe dei um abrigo.

E disse, sem dó no peito:
Passarinho é irracional
Não tem noção de direito
Não sabe o que é bem ou mal
Por isso não pode sofrer
Que seu destino é viver
Para entoar o seu canto
E se canta em sertania
Canta em gaiola sombria
Que em seu cantar não há pranto.

Disse mais: sou realista
Um passarinho desse jeito
Miúdo, que nem se avista
Tem seu espaço perfeito
Numa gaiola pequena
Então não posso ter pena
Pois lhe sendo superior
Um cabra dessa estatura
Eu vivo numa apertura
Avalie um bichinho sem valor.

Eu disse comigo, sozinho
Não quero ouvir mais um pio
Não do pobre passarinho
Mas desse sujeito sem brio
Que tem u’a mente tacanha
E u’a crueldade tamanha
Que desconfio que é loucura
Pois não é só ignorância
É despeito, é prepotência
E pra esse mal não há cura.

Suas razões são mesquinhas
Sujeito ruim e covarde
Pois não sabe que as avezinhas
Vivem só em liberdade?
Voando pelas colinas
Pousando em férteis campinas
Para catar alimentos
Bebendo em rios e lagos
Trocando entre elas afagos
Fazendo ninho pro’s rebentos.

Respeite a Natureza
Se guarda algum sentimento
Liberte-se dessa vileza
De passar seu sofrimento
A u’a criatura indefesa
Não queira que sua tristeza
Mate a alegria de um ser
Que vive livre, inocente
Voando, a espalhar semente
Que é pra isso o seu viver.

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