domingo, 30 de janeiro de 2011

O Guloso

(dance)O guloso vai se deitar
Com a pança já pela boca
Mas sonha que passa fome
E é uma fome tão louca
Que esvazia a geladeira
E a comida ainda é pouca.

Deixando a família de 'touca'
Depois de 'limpar' a cozinha
Com o peso do bucho se deita
Ruminando uma coisinha
E só esperando sonhar
Pra 'limpar' a da vizinha.

Não sei se dorme comendo
Ou se ele come dormindo
Só sei que quando amanhece
Com o cheiro de peixe subindo
Lhe aperta uma fome daquelas
De ver o mar se abrindo.

O olho maior que a barriga
Tudo na boca quer pôr
Só tem prazer ao sentir
No pé do bucho uma dor
E volta morrendo de fome
Depois que arria o cocô.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Traidor

(dance)Judas foi o traidor
Que inspirou muita gente
Perto de muito safado
Até parece decente
E não chega nem aos pés
Do político que mente.

Vem manhoso como um gato
Se esfregando nas canelas
Senta na mesa da gente
Mexe nas nossas panelas
E isso antes de o cristão
Lhe abrir porta e janelas.

A intimidade é tanta
Que anda a soltar uns torpedos
Se um dia chegou invasor
Agora trocamos segredos
E é pelos pontos mais fracos
Que vai explorar nossos medos.

Depois de ganhar confiança
Fazer promessa e "esquecer"
Fazer bem feitinho nossa cama
Nos enganando a valer
Vem beijar a nossa face
Para depois nos foder.

A décima a seguir foi glosada pelo cantador repentista Otacílio Batista, poeta nascido em Itapetim - PE, em 1924.

Fazer o bem é perdido,
Fazer o mal não convém,
Entre a maldade e o bem
Quem faz o bem é traído.
Eu não fui compreendido
Quando tive compaixão
De quem me estendia a mão
Desejando ser feliz:
A quem mais favor eu fiz
Só me fez ingratidão.

O Invejoso

(dance)O pecado da inveja
Começou quando Caim
Com inveja do irmão
Resolveu dele dar fim
É por isso que o invejoso
É um sujeito ruim.

A inveja é um sentimento
Que causa bastante mal
Pois quem inveja alguém
O trata como rival
Em sua presença o elogia
E por trás lhe mete o pau.

Quer ser o que o outro é
Quer ter o que o outro tem
Mas sem competência pra tal
Faz do outro seu refém
E até se o outro morrer
Ele quer ir junto também.

A décima a seguir é do cantador repentista Germano da Lagoa, poeta nascido em Teixeira - PB, em 1842, e falecido em 1904.

Agora ficou provado
Que procedes de Caim,
Nunca vi um tronco ruim
Dar um fruto apreciado.
Tens o instinto malvado,
Do Direito és inimigo.
Eu em verdade te digo:
Tu com Deus não tens negócio
E o diabo é teu sócio,
Do céu terás o castigo.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Bom dia! Mas...Bom dia mesmo!

(dance)Tem gente que dá um bom dia
Entre dentes, resmungado
E pelas costas dá o dedo
E xinga, cospe de lado
Mas a ser de má vontade
Antes ficasse calado.

 
E há quem diga isso só: dia!...
Meia palavra só gasta
Pra que eu logo entenda assim:
Dia... bo o carregue, te afasta!
Que pra um bom entendedor
Meia palavra só basta.

 
Mas há quem dê um bom dia

Meio fanhoso, a zombar
E parece dizer: bundinha! 

Como aludindo, ao olhar,
Àquela parte de trás
Onde eu devesse tomar.

Aperto de mão arrochado











(dance)De vez em quando um sujeito
Me dando um aperto de mão
Aperta tão acochado
Que chega dói os tendão
Não sei se é prazer em me ver
Ou torturar-me, patrão.

 
Não bastasse arrochar a mão
Ainda demora em largar
Parece esticar o gozo
Ouvindo os dedo estalar
E rindo no canto da boca
Espera então eu peidar.

 
Mas pior que a dor do aperto
É o recado que ele quer dar
Mostrando força ou poder
Pensa então me intimidar
E se quebrar minha mão
Vão vê-lo desmunhecar.


Conta-nos o poeta Francisco das Chagas Batista no seu já clássico livro 'Cantadores e Poetas Populares' (Ed. Universitária - UFPB, 1997, João Pessoa/PB), que, certa vez, o cantador repentista Ugolino Nunes da Costa chegou, inesperadamente, no lugar Barra Lisa, e hospedou-se em casa de seu amigo Pirangi. Morava ali o cantador Elesbão da Cunha Machado. Este, ao saber que Ugolino estava na terra, foi ao seu encontro e, ao apertar-lhe a mão, fez-lhe a seguinte pergunta: 'Onde mora, e o que veio fazer aqui?' Ugolino, ainda segurando-lhe a mão, respondeu-lhe com o seguinte improviso:

No sertão do Sabugi
É a minha residência,
Porém quis a Providência
Que eu hoje viesse aqui,
Na casa de Pirangi,
Meu amigo dedicado;
E, uma vez que sou chegado,
Hoje aqui na Barra Lisa,
Eu venho dar uma pisa
Em Elesbão Cunha Machado... 

Aperto de mão molenga














(dance)É comum no dia a dia
Eu apertar a mão de alguém
Uns vêm com a mão tão molenga
Que só os dedo é que vêm
Ou pensam que sou um leproso
Ou um reles joão ninguém.

 
A muito custo o sujeito
Me dá a mão pra apertar
É que enfadado do gesto
Nem vê minha mão levantar
Mas se eu retiro, ele bota
E torno a mão a lhe dar.

 
E se torcendo o nariz
Toca a mão pra se livrar
Parece que toma um choque
Pois cuida logo em puxar
E ao puxar qual pau de merda
É minha mão que vai sujar.