E HOUVE RODEIO NO SERTÃO
Houve um tempo que o rodeio
Aportou cá no sertão
Quem trouxe a ideia foi Tião
Que a expôs sem arrodeio.
Também não teve aperreio,
Que os vaqueiros que toparam,
Pra peão logo mudaram.
E as duplas não separadas
Que corriam as vaquejadas,
Vendo o prêmio, se animaram.
Tião era o aventureiro
Que seduzia os prefeitos
Dizendo que em Barretos
Rodeio dava é dinheiro.
Que introduziu o primeiro
Show do ritmo sertanejo
Que hoje atende ao desejo
De quem só ouvia forró;
Igual ao rodeio, que tá só
Começando o seu traquejo.
Então, com o tempo, a cultura
Do rodeio foi se instalando
E todos se adaptando
A essa nova aventura
Que aumentava a fatura
Dos promotores do evento
Que já estava no intento
De adulto, jovem e criança,
Tendo em comum a esperança
De irem a favor desse vento.
Sendo assim, cada peão
Buscou se especializar
E mais se aperfeiçoar
Nessa nova profissão.
Para tanto, no sertão
Touros chucros aportavam
Mas nem todos que treinavam
Iam cumprir seu papel
Porque embaixo desse céu
Só os resistentes vingavam.
Bentinho, peão já afamado,
De um curral ele cuidava,
As reses alimentava
Mais com palmas do roçado.
E havia nesse cercado
Um boi de muita pegada
Que em rodeio era u'a parada
Pois, derrubando os peões,
Conquistou dos campeões
Fama de rei da boiada.
Mas no meio do sertão
Bateu uma seca danada.
De toda terra plantada
Ficou só o que é desse chão,
Sem pé de milho, feijão,
Algaroba, nem mais nada;
E pra comer, a manada,
Depois que a palma acabou-se,
Com o cardeiro atracou-se,
Até o rei da boiada.
De um curral ele cuidava,
As reses alimentava
Mais com palmas do roçado.
E havia nesse cercado
Um boi de muita pegada
Que em rodeio era u'a parada
Pois, derrubando os peões,
Conquistou dos campeões
Fama de rei da boiada.
Mas no meio do sertão
Bateu uma seca danada.
De toda terra plantada
Ficou só o que é desse chão,
Sem pé de milho, feijão,
Algaroba, nem mais nada;
E pra comer, a manada,
Depois que a palma acabou-se,
Com o cardeiro atracou-se,
Até o rei da boiada.
Infelizmente a silagem
Era pouca e acabou-se.
Sem moer mais cana doce,
Nem milho, palma nem vagem
Pra produção da forragem,
O curraleiro pé-duro
Coitado, passando apuro,
Só tem o mandacaru
Pois até o capim-açu
Não cresce num chão que é duro.
O único pasto do chão
Que ainda havia na cocheira
Não era palma forrageira
Nem caroço de algodão;
Nessas terras do sertão
Durante a seca infernal
Tudo o que come o animal
É um mói de cardeiro assado
Para o espinho ser retirado,
Além de lamber o sal.
Por ser um touro especial
Seu tratamento era à parte.
Se de uns bois havia o descarte
Era pro bem do curral;
Com a venda, se tinha o "cacau"
Pra adquirir a ração
Pra adquirir a ração
Pra sustentar o campeão
Mantendo-o saudável e forte
Que dessa vez o esporte
Ia premiar com um milhão.
Esse touro, na verdade
É o tipo não amansado;
O que, na feira de gado,
Parece nem ter vontade;
Tá com toda a liberdade
Mas se deixa ser montado;
Quem quer comprar diz: coitado!
Mas não sabe é que o cativo
Que é indomável e agressivo,
Só tá mesmo é bem dopado.
Um touro assim tão arisco
Quebra cerca e vai embora.
E o vaqueiro mete a espora
No cavalo, a correr risco.
Se tiver hérnia de disco,
Não pode ir desembestado;
Sabe que o mato é fechado
E tem que abri-lo na foice,
Depois livrar-se de um coice
Do touro que é acuado.
Esse peão afamado,
Moço, forte, destemido,
Por nenhum touro vencido,
Vinha sendo derrubado,
Mas pelo boi do cercado,
O qual ele alimentava,
Puxava um banquinho, sentava
Queimando espinho do cardeiro
Para dar ao companheiro
Com a ração que rareava.
Bentinho gostava do boi,
Respeitava e admirava,
Dava banho e vacinava
Dizendo: Deus o abençoe.
E aquele boi, foi-não-foi,
Dando em seu rosto u'a lambida,
Deixava-o dar-lhe u'a subida
Pra que sentisse o seu lombo
E no seu próximo tombo
Demorasse na caída.
Porém, algo inesperado
Aconteceu com os dois:
Foi quando chegou depois
Um peão enciumado
Para ajudar no cercado
E na lida do curral;
Pro cocho levando sal
E os pedaços de cardeiro
Livres daquele espinheiro
Perigoso pra o animal.
Aquele peão amigo
Com quem o boi se apegou,
Com paciência o adestrou
Pra apartar o joio do trigo
E se livrar do perigo
Dos espinhos do cardeiro,
Pois daria muito dinheiro
Por ser um boi vencedor,
Não ao peão tratador
Mas ao velho fazendeiro.
Aconteceu de uma vez
O fazendeiro ir olhar
E no curral encontrar
Agonizando uma rês,
Por causa da estupidez
De um peão criminoso
Que pôs o cacto espinhoso
Intacto no cocho dado
Pr'aquele boi afamado
E muito mais valioso.
E sabendo o fazendeiro
Que esse cocho era cuidado
Pelo peão afamado,
Deu suas contas ligeiro.
E o peão traiçoeiro,
O culpado pelo mal,
Virou chefe do curral
Pra dar ao boi segurança,
E duplicou sua finança
Afastando seu rival.
Mas o boi sentia saudade
Do seu amigo leal,
Inda mais que o peão mau
O tratava com maldade,
Pois não lhe impunha a vontade
Que era amansá-lo pra si,
Pra no rodeio conseguir
Passar mais tempo montado
E então sair premiado,
Depois de ao júri iludir.
O fazendeiro enganado
Foi injusto sem saber,
E sem querer fez sofrer
A um peão bravo e honrado
Que partiu desconsolado
Sem conseguir entender
Como pôde acontecer
Aquele mal-entendido,
Pois que não era bandido,
Mas livrou o boi de morrer.
Pena que não teve chance
De contar esse segredo
Ao seu patrão que, tão cedo,
Sabendo do ingrato lance,
Mandou dizer-lhe: não avance,
Não vá à minha casa bater,
Pois não vai me convencer
Que enganou-se na sua lida,
Que boi não enjeita comida,
O outro é que viu, foi comer.
Mas, no fundo, o fazendeiro
Achava estranho o acidente,
Que um peão bravo não mente;
Porém, ficou é cabreiro,
Pois era muito dinheiro
Que estava em jogo no caso;
E aquele boi, por acaso,
Lhe valia mais que amizade;
E sem saber da verdade,
A vã suspeita deu azo.
E as coisas iam assim:
O peão bom magoado,
O touro um tanto amuado,
Cismado com o peão ruim,
E o fazendeiro, enfim,
Porque o crime não compensa,
Ouviu sobre a desavença,
Do mau contra o bom peão,
Da boca desse vilão
Delirando nu'a doença.
Esse peão afamado,
Moço, forte, destemido,
Por nenhum touro vencido,
Vinha sendo derrubado,
Mas pelo boi do cercado,
O qual ele alimentava,
Puxava um banquinho, sentava
Queimando espinho do cardeiro
Para dar ao companheiro
Com a ração que rareava.
Bentinho gostava do boi,
Respeitava e admirava,
Dava banho e vacinava
Dizendo: Deus o abençoe.
E aquele boi, foi-não-foi,
Dando em seu rosto u'a lambida,
Deixava-o dar-lhe u'a subida
Pra que sentisse o seu lombo
E no seu próximo tombo
Demorasse na caída.
Porém, algo inesperado
Aconteceu com os dois:
Foi quando chegou depois
Um peão enciumado
Para ajudar no cercado
E na lida do curral;
Pro cocho levando sal
E os pedaços de cardeiro
Livres daquele espinheiro
Perigoso pra o animal.
Aquele peão amigo
Com quem o boi se apegou,
Com paciência o adestrou
Pra apartar o joio do trigo
E se livrar do perigo
Dos espinhos do cardeiro,
Pois daria muito dinheiro
Por ser um boi vencedor,
Não ao peão tratador
Mas ao velho fazendeiro.
Aconteceu de uma vez
O fazendeiro ir olhar
E no curral encontrar
Agonizando uma rês,
Por causa da estupidez
De um peão criminoso
Que pôs o cacto espinhoso
Intacto no cocho dado
Pr'aquele boi afamado
E muito mais valioso.
E sabendo o fazendeiro
Que esse cocho era cuidado
Pelo peão afamado,
Deu suas contas ligeiro.
E o peão traiçoeiro,
O culpado pelo mal,
Virou chefe do curral
Pra dar ao boi segurança,
E duplicou sua finança
Afastando seu rival.
Mas o boi sentia saudade
Do seu amigo leal,
Inda mais que o peão mau
O tratava com maldade,
Pois não lhe impunha a vontade
Que era amansá-lo pra si,
Pra no rodeio conseguir
Passar mais tempo montado
E então sair premiado,
Depois de ao júri iludir.
O fazendeiro enganado
Foi injusto sem saber,
E sem querer fez sofrer
A um peão bravo e honrado
Que partiu desconsolado
Sem conseguir entender
Como pôde acontecer
Aquele mal-entendido,
Pois que não era bandido,
Mas livrou o boi de morrer.
Pena que não teve chance
De contar esse segredo
Ao seu patrão que, tão cedo,
Sabendo do ingrato lance,
Mandou dizer-lhe: não avance,
Não vá à minha casa bater,
Pois não vai me convencer
Que enganou-se na sua lida,
Que boi não enjeita comida,
O outro é que viu, foi comer.
Mas, no fundo, o fazendeiro
Achava estranho o acidente,
Que um peão bravo não mente;
Porém, ficou é cabreiro,
Pois era muito dinheiro
Que estava em jogo no caso;
E aquele boi, por acaso,
Lhe valia mais que amizade;
E sem saber da verdade,
A vã suspeita deu azo.
E as coisas iam assim:
O peão bom magoado,
O touro um tanto amuado,
Cismado com o peão ruim,
E o fazendeiro, enfim,
Porque o crime não compensa,
Ouviu sobre a desavença,
Do mau contra o bom peão,
Da boca desse vilão
Delirando nu'a doença.
O covarde peão mau
Cujo apelido era Nero
Disse, na febre, eu quero
Nesse boi descer o pau,
Depois deitar no jirau
Pensando em mais violência,
Pensando em mais violência,
Pois já tô sem paciência
Com esse boi, que é besta-fera.
Meu patrão, Bentinho já era!
Perdeu com a sua inocência.
O fazendeiro notava,
Um tanto contrariado,
O boi bastante agitado
Quando por trás lhe chegava
Seu algoz que o acuava
Com um troço de espetar,
Porque dizia se tratar
De um bicho bruto e feroz,
E quanto mais fosse atroz
Mais peões ia derrubar.
Mas o patrão o comparava
Com o peão que, de outro jeito,
Tratando o boi com respeito,
Seu bom humor conquistava,
Que medo o boi não dobrava,
Mas justamente assim
Agia o peão ruim
Tentando em vão dominá-lo
Pra poder então montá-lo
E lucrar muito no fim.
E aconteceu o esperado
Dia do famoso rodeio.
Era um milhão, sem rateio,
Para o melhor colocado.
Na arena, lado a lado,
Os dois peões iam montar.
E o judas: 'vem me abraçar,
Te desejo boa sorte,
Mas sendo a hora da morte,
Que ela venha é te buscar'.
O touro era o afamado
Valente boi do sertão,
Criado num árido chão
Também com cardeiro assado.
Por que era o mais premiado,
É um mistério da Natura.
Não era só musculatura,
Que força bruta não basta;
Força maior há que arrasta
Um touro à maior altura.
Lá na banca de apostas
O fazendeiro investia.
Dessa vez ele intuía
Que o boi lhe daria as costas...
Com as coisas assim já postas,
Quis seguir seu coração,
Pois viu que agora um peão
Podia vencer o boi danado,
E com esse resultado
O dono não via tostão.
Enquanto muitos jogavam,
Por fone, as fichas no boi,
Só o mau peão é que foi
Escolha dos que apostavam
Porque, presentes, notavam
Que o boi recuava ao vê-lo;
Então Nero ia detê-lo,
Pois quando o boi encarou,
Já no brete o acuou
Arrepiando-lhe o pelo.
O fazendeiro também
Apostou foi no peão,
Mas jogou foi o coração
Na banca, em cada vintém.
E tudo ficaria bem
Se Bentinho do boi ganhasse;
Porém, se ele fracassasse,
Tudo então estaria perdido,
E o seu boi seria vendido,
Talvez churrasco virasse.
O fazendeiro notava,
Um tanto contrariado,
O boi bastante agitado
Quando por trás lhe chegava
Seu algoz que o acuava
Com um troço de espetar,
Porque dizia se tratar
De um bicho bruto e feroz,
E quanto mais fosse atroz
Mais peões ia derrubar.
Mas o patrão o comparava
Com o peão que, de outro jeito,
Tratando o boi com respeito,
Seu bom humor conquistava,
Que medo o boi não dobrava,
Mas justamente assim
Agia o peão ruim
Tentando em vão dominá-lo
Pra poder então montá-lo
E lucrar muito no fim.
E aconteceu o esperado
Dia do famoso rodeio.
Era um milhão, sem rateio,
Para o melhor colocado.
Na arena, lado a lado,
Os dois peões iam montar.
E o judas: 'vem me abraçar,
Te desejo boa sorte,
Mas sendo a hora da morte,
Que ela venha é te buscar'.
O touro era o afamado
Valente boi do sertão,
Criado num árido chão
Também com cardeiro assado.
Por que era o mais premiado,
É um mistério da Natura.
Não era só musculatura,
Que força bruta não basta;
Força maior há que arrasta
Um touro à maior altura.
Lá na banca de apostas
O fazendeiro investia.
Dessa vez ele intuía
Que o boi lhe daria as costas...
Com as coisas assim já postas,
Quis seguir seu coração,
Pois viu que agora um peão
Podia vencer o boi danado,
E com esse resultado
O dono não via tostão.
Enquanto muitos jogavam,
Por fone, as fichas no boi,
Só o mau peão é que foi
Escolha dos que apostavam
Porque, presentes, notavam
Que o boi recuava ao vê-lo;
Então Nero ia detê-lo,
Pois quando o boi encarou,
Já no brete o acuou
Arrepiando-lhe o pelo.
O fazendeiro também
Apostou foi no peão,
Mas jogou foi o coração
Na banca, em cada vintém.
E tudo ficaria bem
Se Bentinho do boi ganhasse;
Porém, se ele fracassasse,
Tudo então estaria perdido,
E o seu boi seria vendido,
Talvez churrasco virasse.
O assistente encarregado
De regular o sedém,
Foi fiscalizar também
As esporas do calçado.
Porém, foi ludibriado
Por um truque do velhaco
Que, sabendo que era fraco,
Quebrou as regras já postas,
Pois Nero escondia nas costas
Deslealdades num saco.
O locutor, começando,
Chamou o peão malvado
Que já estava montado
No boi, e o ameaçando,
Com esporas o espetando,
E o boi nem mexer podia,
Que o brete que o prendia
Não deixava-o se virar;
E o peão pra aproveitar,
Do boi tirava energia.
Quando a porteira se abriu,
Nero o sedém arrochou,
O boi quase que arriou,
Mas o malvado o atingiu
De um jeito que não se ouviu
Um mugido tão sentido;
De um pulo o boi tinha partido,
Mas ainda não corcovava,
Que de dor cambaleava
Pro peão ser aplaudido.
O que Nero não esperava
Era que o laço afrouxasse
E do boi aliviasse
A dor que o subjugava;
Mas enfim o boi voltava
A gozar de força plena,
E fez toda aquela arena
Dar viva ao rei da boiada,
Depois que u'a bela patada
Tirou o peão de cena.
O locutor, continuando,
Chamou, fazendo um rimado,
Bentinho, que já era aguardado
Mas estava demorando.
O narrador, estranhando,
Foi saber o que se passava,
Porque a plateia já estava
Preocupada com o peão:
Será que teve a visão
O locutor, começando,
Chamou o peão malvado
Que já estava montado
No boi, e o ameaçando,
Com esporas o espetando,
E o boi nem mexer podia,
Que o brete que o prendia
Não deixava-o se virar;
E o peão pra aproveitar,
Do boi tirava energia.
Quando a porteira se abriu,
Nero o sedém arrochou,
O boi quase que arriou,
Mas o malvado o atingiu
De um jeito que não se ouviu
Um mugido tão sentido;
De um pulo o boi tinha partido,
Mas ainda não corcovava,
Que de dor cambaleava
Pro peão ser aplaudido.
O que Nero não esperava
Era que o laço afrouxasse
E do boi aliviasse
A dor que o subjugava;
Mas enfim o boi voltava
A gozar de força plena,
E fez toda aquela arena
Dar viva ao rei da boiada,
Depois que u'a bela patada
Tirou o peão de cena.
O locutor, continuando,
Chamou, fazendo um rimado,
Bentinho, que já era aguardado
Mas estava demorando.
O narrador, estranhando,
Foi saber o que se passava,
Porque a plateia já estava
Preocupada com o peão:
Será que teve a visão
Do touro que o matava?
O locutor foi chegando
Perto do peão afamado;
Ele o viu desanimado
E o flagrou quase chorando;
Então foi lhe aconselhando
Por ser um homem experiente.
Disse: Bentinho, sei o que sente;
São normais esses vacilos
Se o boi tem seiscentos quilos.
Medo pega até valente.
Bentinho o foi tranquilizando.
Disse tava angustiado
Porém, que já havia passado.
Mentiu o que tava pensando:
Que a arena ele ia deixando,
Triste com a separação
Do amigo boi campeão,
O qual deixara saudade
E a esperança de, mais tarde,
Poder tocá-lo sua mão.
Pro público veio a surpresa
Quando dos fones ouviu
Traçado todo o perfil
Do touro a que a natureza
Do sertão deu realeza.
Bentinho já se preparava,
Mas nada ouvia, só rezava
Sem saber que um telão
Tava mostrando ao sertão
O touro que já assustava.
E quando entrou no local
Pra montar no boi do dia,
Só ele que não sabia
Qual touro; mas um mural
Dizia ser o arquirrival
Dos peões mais afamados.
E já com os pés apoiados
Pra o boi montar de uma vez,
Passou a mão em sua tez,
Viu os olhos do boi molhados.
O touro o reconheceu,
Sentiu o amigo no toque,
E Bentinho, com esse choque,
De alegre, um beijo lhe deu.
A luz que os envolveu
Deu aos dois u'a força nova.
Quando começou a prova
O touro não pinotava
Mas com o amigo "dançava"
Simulando dar-lhe u'a sova.
Desse jeito o peão do bem
Conseguiu domar o boi.
E foi assim que ele foi
O campeão, e também
Pôs um milhão de vintém
No seu bolso, e ia saindo
Quando por trás vinha vindo
O peão mau pra atacá-lo.
Não deu pro dono avisá-lo,
Mas seu boi já ia partindo.
Deu tempo de o boi pegá-lo,
Com uma chifrada o jogou
Pra longe, e muito voou,
Caiu de boca num talo
De cardeiro a espetá-lo;
Sorte que era bem novinho
Mas já com um monte de espinho
Que fez um estrago medonho;
Ficou sem um olho o tristonho,
E no olho da rua, sozinho.
O fazendeiro correu
Pra acudir o bom peão,
Mas só um corte na mão
Que do seu judas sofreu.
E Bentinho agradeceu,
Mas decidido falou:
'Tome o dinheiro que dou,
Que sei de sua precisão.
O senhor tem culpa não
Que o boi ganhar me deixou'.
Mas Bentinho não esperava
O fazendeiro chorar,
Nem dinheiro recusar,
Afora o boi que lhe dava.
Então o que se passava
Na cabeça do ex-patrão?
Pois com um bilhete na mão
Fez prova que apostou
Nesse peão que ganhou,
E ele também, um milhão!
Os dois assim entendidos
Apertaram as suas mãos.
E os receios que eram vãos
Ficaram logo esquecidos;
Foram substituídos
Por respeito e amizade,
Pois sabendo da verdade
Que Bentinho lhe havia contado,
Pediu perdão, tava errado,
Pois fiou-se na maldade.
E quando entrou no local
Pra montar no boi do dia,
Só ele que não sabia
Qual touro; mas um mural
Dizia ser o arquirrival
Dos peões mais afamados.
E já com os pés apoiados
Pra o boi montar de uma vez,
Passou a mão em sua tez,
Viu os olhos do boi molhados.
O touro o reconheceu,
Sentiu o amigo no toque,
E Bentinho, com esse choque,
De alegre, um beijo lhe deu.
A luz que os envolveu
Deu aos dois u'a força nova.
Quando começou a prova
O touro não pinotava
Mas com o amigo "dançava"
Simulando dar-lhe u'a sova.
Desse jeito o peão do bem
Conseguiu domar o boi.
E foi assim que ele foi
O campeão, e também
Pôs um milhão de vintém
No seu bolso, e ia saindo
Quando por trás vinha vindo
O peão mau pra atacá-lo.
Não deu pro dono avisá-lo,
Mas seu boi já ia partindo.
Deu tempo de o boi pegá-lo,
Com uma chifrada o jogou
Pra longe, e muito voou,
Caiu de boca num talo
De cardeiro a espetá-lo;
Sorte que era bem novinho
Mas já com um monte de espinho
Que fez um estrago medonho;
Ficou sem um olho o tristonho,
E no olho da rua, sozinho.
O fazendeiro correu
Pra acudir o bom peão,
Mas só um corte na mão
Que do seu judas sofreu.
E Bentinho agradeceu,
Mas decidido falou:
'Tome o dinheiro que dou,
Que sei de sua precisão.
O senhor tem culpa não
Que o boi ganhar me deixou'.
Mas Bentinho não esperava
O fazendeiro chorar,
Nem dinheiro recusar,
Afora o boi que lhe dava.
Então o que se passava
Na cabeça do ex-patrão?
Pois com um bilhete na mão
Fez prova que apostou
Nesse peão que ganhou,
E ele também, um milhão!
Os dois assim entendidos
Apertaram as suas mãos.
E os receios que eram vãos
Ficaram logo esquecidos;
Foram substituídos
Por respeito e amizade,
Pois sabendo da verdade
Que Bentinho lhe havia contado,
Pediu perdão, tava errado,
Pois fiou-se na maldade.
Agora, o prêmio maior
Quem ganhou não foi ninguém.
Até o milhão de vintém,
Se comparado, era pó.
Pois o bem que era o melhor,
Que tinha valor de verdade,
Todo o dinheiro da cidade
Não era capaz de comprá-lo;
Também não se podia dá-lo,
Que esse bem é a liberdade.
É um bem que, sendo tirado,
Não pode ser devolvido.
Nem emprestado ou vendido.
Não sendo negociado,
Só pode ser conquistado
Numa luta paciente.
E esse boi foi bem valente:
Numa peleja de dias
De Davi contra Golias
Conquistou seu bem ausente.
Mas como sempre acontece
Com o que o homem contou,
O sertão acreditou
Pois é a visão que aparece.
Se o touro contar pudesse,
A história era outra, irmão.
No fim, todo o mérito, então
Ficou para o fazendeiro
Que "libertou" o guerreiro,
O boi que valia um milhão.
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