sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Setilhas para uma Mãe



Um bebê rechonchudinho
Num corpinho tão pequeno
Com uma mãozinha no seio
Olhando a mãe, tão sereno
É um quadro de amor que encanta
Nessa comunhão, é a santa
Dando o seio ao nazareno.

O bebê faz besourinho
Chora por manha, ou com fome
Depois que a mãe põe no colo
Para o choro; a mãe diz: tome
Logo no peito se ajeita
Mama, ou faz dele chupeta
Ou morde pra rir com um nome*...

Veja que fofo um bebê
Em paz, tirando u'a soneca
Bobinha, a mãe pega a filha
Lembrando de sua boneca
Troca a roupinha, enfeita
Bota no peito, aleita
E o seio da mãezinha não seca.

Qualquer barulho, o nenê
Se assusta, e o choro parece
Pedindo à mãezinha o braço,
Mas tem o consolo da prece;
E a mãe rezando, recorda:
Tocando a rede, ele acorda
E balançando, adormece.


Um bebezinho rosado
As perninhas chutam tanto
A mãe, distraída, o pega
Põe na lapinha, num canto
Deitado na manjedoura
Então u'a luz duradoura
Vem cobrir o menino santo.


Veja o sorriso inocente
No semblante de um bebê
Sonhando, parece um anjo
Com outro anjinho a correr
Diz u'a mãe vendo essa imagem:
Como alguém tem a coragem
De abandonar esse ser!?


Bebê -- alegria do lar;
Ninguém imagina a dor
De ver um passarinho calar
Que bateu asas, voou;
Ah! só saudades no ninho!
E aos céus vai em paz o anjinho
Porque sua mãezinha o amou.

* Chamar um nome: expressão típica do povo nordestino, que significa chamar um palavrão.

Consta no espetacular livro POETAS ENCANTADORES do poeta e repentista Zé de Cazuza, que é do cantador repentista Job Patriota, poeta nascido em Itapetim - PE, em 1929, e falecido em 1992, esta décima glosada de forma magistral:

Quando a criança adormece
A mãe já fraca do parto
Nos quatro cantos do quarto
Deus em pessoa aparece.
O Santo Espírito desce
Distribuindo alegria
Aquela rede sombria
Tem uma mão que balança
A casa que tem criança
Deus visita todo dia.

 

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