Egocentrismo é o estado
Que faz crer só haja o EU;
O OUTRO é só uma dúvida
Que assola o espírito meu,
Que o mundo é só pra eu SER,
Pois que não pode haver
Nada que eu chame de SEU.
Esse estado faz pensar
Que exista apenas o EU;
O OUTRO seria uma sombra
Cruzando o caminho meu
(Um fato incompreensível),
Pois se me é invisível,
Não vejo vestígio seu.
Imagine quando o OUTRO
É um mendigo ou gari;
Aí mesmo é que não pode
Nesse meu mundo existir,
Pois eu só vejo beleza
Luxo, glamour e riqueza
No espelho a me refletir.
Mas se existisse um OUTRO,
Então eu seria um cego,
Pois não consigo contar
Com nada além do meu EGO,
Que o mundo é o meu umbigo,
É meu, pra mim e comigo,
Só EU, e o resto eu renego.
Inda que existisse um OUTRO
Devia de mim se esconder,
Pois não admito que haja
OUTRO que pretenda SER;
Só eu existo na vida,
Que figura repetida
No meu álbum não se vê.
Setilha do Egoísmo
Egoísmo é um defeito
De caráter; e eu nunca vi
Um egoísta ter sócio,
E quanto mais dividir;
Só aprendeu a somar,
Para si multiplicar,
Dos outros subtrair.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Setilhas para uma Mãe
Um bebê rechonchudinho
Num corpinho tão pequeno
Com uma mãozinha no seio
Olhando a mãe, tão sereno
É um quadro de amor que encanta
Nessa comunhão, é a santa
Dando o seio ao nazareno.
O bebê faz besourinho
Chora por manha, ou com fome
Depois que a mãe põe no colo
Para o choro; a mãe diz: tome
Logo no peito se ajeita
Mama, ou faz dele chupeta
Ou morde pra rir com um nome*...
Veja que fofo um bebê
Em paz, tirando u'a soneca
Bobinha, a mãe pega a filha
Lembrando de sua boneca
Troca a roupinha, enfeita
Bota no peito, aleita
E o seio da mãezinha não seca.
Qualquer barulho, o nenê
Se assusta, e o choro parece
Pedindo à mãezinha o braço,
Mas tem o consolo da prece;
E a mãe rezando, recorda:
Tocando a rede, ele acorda
E balançando, adormece.
Um bebezinho rosado
As perninhas chutam tanto
A mãe, distraída, o pega
Põe na lapinha, num canto
Deitado na manjedoura
Então u'a luz duradoura
Vem cobrir o menino santo.
Veja o sorriso inocente
No semblante de um bebê
Sonhando, parece um anjo
Com outro anjinho a correr
Diz u'a mãe vendo essa imagem:
Como alguém tem a coragem
De abandonar esse ser!?
Bebê -- alegria do lar;
Ninguém imagina a dor
De ver um passarinho calar
Que bateu asas, voou;
Ah! só saudades no ninho!
E aos céus vai em paz o anjinho
Porque sua mãezinha o amou.
* Chamar um nome: expressão típica do povo nordestino, que significa chamar um palavrão.
Consta no espetacular livro POETAS ENCANTADORES do poeta e repentista Zé de Cazuza, que é do cantador repentista Job Patriota, poeta nascido em Itapetim - PE, em 1929, e falecido em 1992, esta décima glosada de forma magistral:
Quando a criança adormece
A mãe já fraca do parto
Nos quatro cantos do quarto
Deus em pessoa aparece.
O Santo Espírito desce
Distribuindo alegria
Aquela rede sombria
Tem uma mão que balança
A casa que tem criança
Deus visita todo dia.
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Martelo Agalopado II
Lembrar da infância traz sempre alegria,
Fase da vida em que tudo são flores,
A mãe e o pai inda são seus amores
Cuidando, educando e sendo seu guia;
Brincando num mundo só de fantasia,
Sua casa é o teto onde há sempre guarida,
Riso na entrada e pranto na saída
Capaz de regar o jardim da saudade;
Pudesse de novo ter a mocidade
Seria criança toda a minha vida.
Eu vejo em cada semblante infantil
A expressão da pureza do divino
No rostinho corado de um menino
Correndo alegre sob um sol hostil;
Quando conta inocente pra um tio
Uma arte que fez, esta é ouvida
Mas diz que pra Deus é já esquecida,
Que Jesus lhe garante a liberdade;
Pudesse de novo ter a mocidade
Seria criança toda a minha vida.
Quem dera se o tempo voltasse atrás
Quando riam das minhas peraltices,
Ingenuidades, gracejos, tolices
Que davam vida à casa dos meus pais;
Queria de novo ancorar nesse cais
A nau da minh'alma há tempo perdida,
Voltar às águas da infância querida
Onde não há de paixões tempestade;
Pudesse de novo ter a mocidade
Seria criança toda a minha vida.
Versos inspirados no mote magnificamente glosado pelo poeta Erasmo Rodrigues, natural de Ouro Velho - PB, nascido em 1940. No belíssimo livro POETAS ENCANTADORES, do cantador e poeta Zé de Cazuza, encontra-se este poema intitulado VINTE E OITO ANOS:
Vinte e oito janeiros me jogaram
Na cadeia dos tristes desenganos
Sinto falta dos meus quatorze anos
Que a soma dos meses apagaram.
Os meus dias felizes lá ficaram
Pela rua da infância adormecida
A barcaça da existência fez partida
Pela água do rio da saudade
Se dinheiro comprasse mocidade
Eu seria criança toda a vida.
Uma noite de inverno, um dia quente,
Um domingo ou por outra um feriado,
Um riacho no leito do roçado
E os estrondos do peso da enchente.
Um açude sangrando, lá na frente,
As saudades da infância inesquecida
Mas o tempo tem ordem permitida
Pra dar fim aos prazeres da idade
Se dinheiro comprasse mocidade
Eu seria criança toda a vida.
Fase da vida em que tudo são flores,
A mãe e o pai inda são seus amores
Cuidando, educando e sendo seu guia;
Brincando num mundo só de fantasia,
Sua casa é o teto onde há sempre guarida,
Riso na entrada e pranto na saída
Capaz de regar o jardim da saudade;
Pudesse de novo ter a mocidade
Seria criança toda a minha vida.
Eu vejo em cada semblante infantil
A expressão da pureza do divino
No rostinho corado de um menino
Correndo alegre sob um sol hostil;
Quando conta inocente pra um tio
Uma arte que fez, esta é ouvida
Mas diz que pra Deus é já esquecida,
Que Jesus lhe garante a liberdade;
Pudesse de novo ter a mocidade
Seria criança toda a minha vida.
Quem dera se o tempo voltasse atrás
Quando riam das minhas peraltices,
Ingenuidades, gracejos, tolices
Que davam vida à casa dos meus pais;
Queria de novo ancorar nesse cais
A nau da minh'alma há tempo perdida,
Voltar às águas da infância querida
Onde não há de paixões tempestade;
Pudesse de novo ter a mocidade
Seria criança toda a minha vida.
Versos inspirados no mote magnificamente glosado pelo poeta Erasmo Rodrigues, natural de Ouro Velho - PB, nascido em 1940. No belíssimo livro POETAS ENCANTADORES, do cantador e poeta Zé de Cazuza, encontra-se este poema intitulado VINTE E OITO ANOS:
Vinte e oito janeiros me jogaram
Na cadeia dos tristes desenganos
Sinto falta dos meus quatorze anos
Que a soma dos meses apagaram.
Os meus dias felizes lá ficaram
Pela rua da infância adormecida
A barcaça da existência fez partida
Pela água do rio da saudade
Se dinheiro comprasse mocidade
Eu seria criança toda a vida.
Uma noite de inverno, um dia quente,
Um domingo ou por outra um feriado,
Um riacho no leito do roçado
E os estrondos do peso da enchente.
Um açude sangrando, lá na frente,
As saudades da infância inesquecida
Mas o tempo tem ordem permitida
Pra dar fim aos prazeres da idade
Se dinheiro comprasse mocidade
Eu seria criança toda a vida.
Glosas V
No meu tempo de menino
Eu queria ser o mocinho,
Qualquer herói de quadrinho,
Da justiça um paladino;
E com o poder genuíno
Imaginava um instante
Surfando a vaga espumante
Pra salvar um peregrino;
Quando eu era pequenino
Era tal qual um gigante.
Quando eu era assim franzino
Eu me sentia um herói,
Sem consciência que dói
Nem alma de libertino;
Eu era um justo ladino
Querendo o bem triunfante,
Sonhando ser governante
Pelo poder do destino;
Quando eu era pequenino
Era tal qual um gigante.
Naquele tempo meu hino
Cantava a fé, liberdade,
O amor que eu tinha à verdade
Fazia sentir-me divino;
E eu, um forte latino
Defendia a bela amante
Do lobisomem errante,
Das garras do assassino;
Quando eu era pequenino
Era tal qual um gigante.
Eu lampião virgulino
Em peleja ou em mourão
Contra infiéis no sertão
Vencia o verso ferino;
Ó meu sertão severino,
Com a mesma arma de Dante
Mas em cordel fuzilante
Rasgava o mote malino;
Quando eu era pequenino
Era tal qual um gigante.
Eu queria ser o mocinho,
Qualquer herói de quadrinho,
Da justiça um paladino;
E com o poder genuíno
Imaginava um instante
Surfando a vaga espumante
Pra salvar um peregrino;
Quando eu era pequenino
Era tal qual um gigante.
Quando eu era assim franzino
Eu me sentia um herói,
Sem consciência que dói
Nem alma de libertino;
Eu era um justo ladino
Querendo o bem triunfante,
Sonhando ser governante
Pelo poder do destino;
Quando eu era pequenino
Era tal qual um gigante.
Naquele tempo meu hino
Cantava a fé, liberdade,
O amor que eu tinha à verdade
Fazia sentir-me divino;
E eu, um forte latino
Defendia a bela amante
Do lobisomem errante,
Das garras do assassino;
Quando eu era pequenino
Era tal qual um gigante.
Eu lampião virgulino
Em peleja ou em mourão
Contra infiéis no sertão
Vencia o verso ferino;
Ó meu sertão severino,
Com a mesma arma de Dante
Mas em cordel fuzilante
Rasgava o mote malino;
Quando eu era pequenino
Era tal qual um gigante.
Mãos e Terras do Sertão
Essas mãos tão calejadas
Em suas palmas rachadas
Estão assim maltratadas
De tanto roçar a terra
Pra plantar milho, feijão
Jerimum e algodão
No chão seco do sertão
Que sangra mãos e desterra...
Essas mãos assim inchadas
De tantos cabos de enxadas
Roçando terras queimadas
E se lavando no mangue,
São mãos nutridas assim:
Tirando o seco capim,
Se cortando nos 'espim'
Se alimentando do sangue...
Essas mãos tão ressecadas,
Pelas saúvas picadas,
Estão assim deformadas
Porque minha vista anda turva;
Mal vejo as covas que faço,
Não sinto o mato que amasso,
E essas mãos, sem cansaço
Esperam em vão cair chuva...
Pois essas mãos caveiradas,
Mãos já demais exploradas
Por deixar pedras talhadas,
Só esperam a chuva cair
Pr'as covas que fez, de repente
Se abrirem pra cada semente
Sair da terra -- ou urgente
Ter que mais fundas abrir...
Em suas palmas rachadas
Estão assim maltratadas
De tanto roçar a terra
Pra plantar milho, feijão
Jerimum e algodão
No chão seco do sertão
Que sangra mãos e desterra...
Essas mãos assim inchadas
De tantos cabos de enxadas
Roçando terras queimadas
E se lavando no mangue,
São mãos nutridas assim:
Tirando o seco capim,
Se cortando nos 'espim'
Se alimentando do sangue...
Essas mãos tão ressecadas,
Pelas saúvas picadas,
Estão assim deformadas
Porque minha vista anda turva;
Mal vejo as covas que faço,
Não sinto o mato que amasso,
E essas mãos, sem cansaço
Esperam em vão cair chuva...
Pois essas mãos caveiradas,
Mãos já demais exploradas
Por deixar pedras talhadas,
Só esperam a chuva cair
Pr'as covas que fez, de repente
Se abrirem pra cada semente
Sair da terra -- ou urgente
Ter que mais fundas abrir...
Pais e Filhos no Sertão
O filho do sertanejo
Quando começa a aprumar
Então já pode ajudar
Lá no preparo do queijo,
Que é assim no lugarejo
Que se cria a molecada,
Pra depois fazer coalhada
E farinha de mandioca,
Dar milho a galinha choca,
Tocaiar vaca amojada.
A mãe dispensa o menor
Por já lhe ter ajudado
Enquanto o pai no roçado
Junto com o filho maior
Pega a semente melhor
Pra ir fazer o plantio
Na beira do seco rio
Onde, num pouco de lama,
Pode vingar uma rama
Mesmo sem chuva o baixio.
Tem uns meninos taludos
Que já se arranjam sozinhos,
Acordam com os passarinhos
Dando gorjeios agudos,
Com os vira-latas raçudos
Saem para uma caçada
Pra derrubar a pedrada
Ou com uma arma de soca,
Tirar peba da toca
Pra ele cair na cilada.
A meninada trabalha
Antes de ir pra cidade
Ou depois que volta, à tarde,
Da escola, ainda ralha;
O estudo não atrapalha
Nem o serviço atrasa;
Inda tem tempo em casa
Pra estudar e brincar
Rezar, dormir e sonhar
Com carne e queijo na brasa.
Consta no espetacular livro POETAS ENCANTADORES do poeta e repentista Zé de Cazuza, que é do cantador repentista Pinto do Monteiro, poeta nascido em Monteiro - PB, em 1896, e falecido em 1990, esta décima glosada de forma magistral:
Me lembro perfeitamente,
Quando em minha idade nova,
O meu pai cavava a cova
E eu plantava a semente.
Eu atrás, ele na frente,
Por ter força e mais idade,
Olhando a fertilidade
Da vastidão da campina,
Aquela chuvinha fina
Me faz chorar de saudade.
Quando começa a aprumar
Então já pode ajudar
Lá no preparo do queijo,
Que é assim no lugarejo
Que se cria a molecada,
Pra depois fazer coalhada
E farinha de mandioca,
Dar milho a galinha choca,
Tocaiar vaca amojada.
A mãe dispensa o menor
Por já lhe ter ajudado
Enquanto o pai no roçado
Junto com o filho maior
Pega a semente melhor
Pra ir fazer o plantio
Na beira do seco rio
Onde, num pouco de lama,
Pode vingar uma rama
Mesmo sem chuva o baixio.
Tem uns meninos taludos
Que já se arranjam sozinhos,
Acordam com os passarinhos
Dando gorjeios agudos,
Com os vira-latas raçudos
Saem para uma caçada
Pra derrubar a pedrada
Ou com uma arma de soca,
Tirar peba da toca
Pra ele cair na cilada.
A meninada trabalha
Antes de ir pra cidade
Ou depois que volta, à tarde,
Da escola, ainda ralha;
O estudo não atrapalha
Nem o serviço atrasa;
Inda tem tempo em casa
Pra estudar e brincar
Rezar, dormir e sonhar
Com carne e queijo na brasa.
Consta no espetacular livro POETAS ENCANTADORES do poeta e repentista Zé de Cazuza, que é do cantador repentista Pinto do Monteiro, poeta nascido em Monteiro - PB, em 1896, e falecido em 1990, esta décima glosada de forma magistral:
Me lembro perfeitamente,
Quando em minha idade nova,
O meu pai cavava a cova
E eu plantava a semente.
Eu atrás, ele na frente,
Por ter força e mais idade,
Olhando a fertilidade
Da vastidão da campina,
Aquela chuvinha fina
Me faz chorar de saudade.
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