segunda-feira, 13 de junho de 2011

Mulher Braba Sim Senhor

(dance)Vou avisar, gente fina
Pra você não se iludir,
É melhor dela fugir
Que ela não é feminina,
Se brincar ela o domina,
Quem a conhece não arrisca
Que essa mulher é arisca,
Não chegue pertinho dela
Nem pense em abraçar ela
Que se encostar sai faísca.


Mulher assim tô pra ver
Do sertão ao cariri,
A dona não gosta de rir
E é dada a dos homens descrer,
Quer ver a doida crescer?
Elogie o seu corpinho
Chamando-a para um cantinho
Mostrando que já armou-se,
Que você vai ver um coice
Dado com muito carinho...

Ô que mulher carinhosa!...
Da rosa só tem o espinho
Que espalha pelo caminho
Mostrando que é perigosa;
É a cobra mais venenosa
Que anda por este sertão;
A bicha não tem coração,
É traiçoeira e fingida
E só quer ser parecida
Com as quenga de Lampião.


Sei que o cumpade costuma
Derrubar boi pelo rabo,
Amansar touro véi brabo
E atrair mulher de ruma;
Mas essa ninguém apruma,
Quem tentar ela arrear
Pensando poder dominar,
Vai ter trabalho em vão
Vai dar com a cara no chão
Com a popa que ela vai dar.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Décima Espanhola I

Praticar a lei cristã
Não é só a gente dizer,
Com a mão no peito a bater:
'Eu oro toda manhã;
Minha fé em Deus não é vã'.
Não basta a Bíblia ter lido,
Em sua palavra ter crido,
Se o que lhe sobra não deu
E a outra face a quem o bateu
Pra lei cristã ter cumprido.

"Ninguém neste recinto, incluindo o seu pastor, acredita na fé cristã. Nenhum de nós daria a outra face; nenhum de nós venderia tudo que tem e daria aos pobres; nenhum de nós daria o casaco a um sujeito que tivesse tirado nosso sobretudo. Cada um de nós acumula todo o tesouro que consegue. Não praticamos a religião cristã e não temos qualquer intenção de praticá-la. Logo, não acreditamos nela. Eu, portanto, me desligo, e aconselho vocês a pararem de mentir e se dispersarem" 
                            Sinclair Lewis, em Elmer Gantry (1927)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Oração Ecumênica

Não houve na Terra u’a crença
Que eu firme não pregasse
Nem teve uma só oração
A que eu não me apegasse
E tudo pra que no fim
A minh’alma se salvasse.

Nunca tive uma vitória
Sem que muito lutasse
Mas sempre orando ao Criador
Para que me ajudasse
E no instante crucial
Força em mim não faltasse.

Nunca houve obstáculo
Que eu não suplantasse
Nem peso sobre meus ombros
Que eu não suportasse
E sempre Deus me atendendo
Se para Ele eu rogasse.

Nunca passei por crise
Que eu não superasse
Nem contraí dívidas
Que eu não resgatasse
Mas sempre pedindo a Allah
Para que me auxiliasse.

Nunca possuí um bem
Que um homem o cobiçasse
Porque nada do que eu tinha
Era coisa que se usasse
Pois se tudo Oxalá me deu
Só Ele então me tirasse.

Nunca sofri provação
Que a minha fé abalasse
E se Javé não permitiu
Que do limite eu passasse
É porque me protegia
Se o mal me atentasse.

Nunca perdi u’a batalha
Que Brahmma não me confortasse
De tudo tirei boas lições
De tudo o que a vida ensinasse
E tudo o que a Ele pedia
É que do mal me livrasse.

Nunca abracei uma causa
Que eu não acreditasse
E pra defendê-la eu pedia
A Jah que me iluminasse
Mas dos louros do triunfo
Pedia-Lhe que me poupasse.

Nunca pedi uma graça
Senão pra quem precisasse
E para alcançá-la do Céu
Bastava com fé que orasse
E do cálice da ostentação
Que minha mão se afastasse.

E cada pessoa em vida
Que de mim se aproximasse
Dava-me razões de querer
Que minha vida eu mudasse
E queria que essas almas
Se boas, o Pai as guardasse.

Milho, feijão e seca

Se planto milho dá espigas
De se entulhar no quintal.
Mas sem chover colho intrigas,
Só faltam cobrir-me no pau.
Brigas na roça, mais brigas
Em casa e no banco rural.

Os roceiros pedem feira,
Os guris choram por pão,
A mulher chama a parteira
E é mais uns óio pidão,
E a financeira parceira
Quer seu dinheiro na mão.

Fica pior se a lagarta
Empestar o milharal.
Não vai haver mesa farta
Porque a perda é total.
Feijão da haste não aparta,
Morre enrolado no pau.

Mesmo catando na roça
Um milhozinho livrado
Não chega pra mão de moça
Fazer qualquer preparado.
Precisava encher uma poça
Só de milho gorado.

E das bagens do feijão
Em cada pezinho de milho
Fica só um cinturão
De casca seca, que empilho
Num paiol, e do mourão
Vejo a queimada, meu filho.

E toda seca é igual:
Perco um pedaço de chão
Que vai pro banco rural.
Plantar é meu ganha-pão,
E se não vinga o milharal
Também não colho o feijão.

Desafio de Cangaceiro

(dance)Se você bater eu bato
Se você render eu rendo
Se você matar eu mato
Se você prender eu prendo
Mas só tem uma coisa
Você falando e eu fazendo.

Se você cortar eu corto
Se você ferir eu firo
Se entortar eu entorto
Se você mirar eu miro
Mas só tem uma coisa
Se não atirar, eu atiro.

Se você pisar eu piso
Se empurrar eu empurro
Se você bisar eu biso
Se esmurrar eu esmurro
Mas só tem uma coisa
Você urrando, eu não urro.

Se você torar eu toro
Se você pegar eu pego
Se você chorar, não choro
Se você negar, não nego
Mas só tem uma coisa
Se arregar, não arrego.

Se você furar eu furo
Se estragar eu estrago
Se pendurar eu penduro
Você pagando, eu pago
Mas só tem uma coisa
Você tragando, eu não trago.

Se você zombar eu zombo
Se você ralhar eu ralho
Se arrombar eu arrombo
Se você malhar eu malho
Mas só tem uma coisa
Você falhando, eu não falho.

Se você varar eu varo
Se você brigar eu brigo
Se disparar eu disparo
Se castigar eu castigo
Mas só tem uma coisa
Você ligando, eu não ligo.

Se você teimar eu teimo
Se enxertar eu enxerto
Se você queimar eu queimo
Se apertar eu aperto
Mas só tem uma coisa
Você errando, eu acerto.

Você fugindo, eu não fujo
Você folgando, eu amarro
Você limpando, eu sujo
Você beijando, eu escarro
Mas só tem uma coisa
Você soltando, eu agarro.

Se você morder eu mordo
Se você partir eu parto
Se engordar eu engordo
Se se fartar eu me farto
Mas só tem uma coisa
Se enfartar, não enfarto.

Nu Divino


Deus deu às aves selvagens
Plumagens que são suas vestes
E os espécimes mais belos
São os pássaros silvestres
Pintados da Natureza
Na tela dos grandes mestres.

Deus deu às plantas nativas
Folhagens que são suas vestes
E as espécies mais vistosas
São as orquídeas campestres
Pintadas da Natureza
Na tela dos grandes mestres.

Deu aos minerais preciosos
Matizes que são suas vestes
E os exemplares mais finos
São os das minas rupestres
Pintados da Natureza
Na tela dos grandes mestres.

E deu à mulher ser livre
Para escolher suas vestes
E os modelos mais formosos
São nuas Vênus agrestes
Pintadas da Natureza
Na tela dos grandes mestres.